Se você ainda não tem bons títulos da literatura latino-americana na sua estante ou nunca sentiu vontade de conhecê-los, este post é um convite para explorar a riqueza da região e questionar-se sobre o que é pertencer a ela.
A literatura latino-americana é diversa, passa por diferentes gêneros, mas também tem algumas características muito próprias e movimentos importantíssimos marcados por algo em comum: contextos históricos, sociais e políticos, como a ditadura, que aconteceu, praticamente, na mesma época nos países da região.
Aliás, se você tem aquela dúvida se é ou não considerado latino-americano, a resposta é sim! Todos os países de língua proveniente do latim, como português e espanhol, são latinos. Portanto, essa identidade também é sua e conhecê-la mais a fundo pode ser bem interessante.
Continue a leitura e descubra autores e autoras para se (re)conhecer!
1. A cachorra, de Pilar Quintana
O nosso primeiro livro é da autora colombiana Pilar Quintana e aborda um tema que, nos últimos tempos, tem gerado diversos debates: a maternidade. A obra traz um lado mais obscuro e nos levanta uma série de questionamentos sobre o que é ser mãe.
A personagem principal, Damaris, é uma mulher que sempre desejou a maternidade. Entretanto, aos 40 anos, isso não aconteceu e, por isso, adotou uma cachorrinha, a quem deu o nome que daria caso tivesse uma filha.
Um fato interessante sobre a obra é que a autora nunca quis ser mãe, mas aos 40 anos mudou de ideia e concebeu o seu filho. Durante a amamentação, Pilar escreveu em seu celular a história de Damaris e, daí, nasceu um livro conceituado.
Voltando à história, Damaris colocou no filhote todas as suas expectativas e anseios da maternidade, até que conheceu a frustração e o rancor ao longo do tempo.
O livro explora muito o conceito do tão conhecido e romantizado amor maternal, assim como a idealização de se tornar mãe. Como a própria autora resume, “minha sensação é que as nossas avós e mães não nos contaram a história completa”.
“A cachorra”, além de trazer o lado mais duro e hostil da maternidade, trata temáticas fundamentais como o machismo, a pobreza, o racismo, violências físicas e psicológicas e desigualdade social.
Em outras obras, o sexo é uma temática predominante nos livros de Pilar, por isso, muitos consideram que “A cachorra” é um trabalho diferente. Entretanto, a autora se posiciona dizendo que a leitura segue a mesma identidade, já que aborda um desejo fortíssimo que, no caso, é a maternidade.
- Livro
- Quintana, Pilar (Author)
- 160 Pages - 11/10/2020 (Publication Date) - Intrínseca (Publisher)
2. Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez
Provavelmente, você já ouviu falar de “Cem anos de solidão”, uma obra extremamente conceituada, de um autor conhecido por muitas pessoas. Gabriel García Márquez também é colombiano e alcançou reconhecimento internacional. Além disso, é um dos principais autores do movimento boom latinoamericano, que aconteceu entre a década de 60 e 70.
Para muitos, “Cem anos de solidão” é a obra que deu uma nova cara para a literatura latino-americana e driblou a onda de obras europeias que, até então, eram destaque.
Há quem diga, também, que “Cem anos de solidão” é a alma da América latina, justamente por trazer o sentimento de um povo colonizado e que passou por inúmeras opressões.
A história narra a cidade fictícia de Macondo e da família Buendía ao longo de sete gerações. O livro contém uma grande diversidade de personagens e, por isso, é necessário estar atento para não perder nada.
Outro fato interessante é que Macondo é uma cidade cheia de possibilidades e, portanto, nunca saberemos até que ponto a história se passa na realidade ou imaginação.
- Márquez, Gabriel García (Author)
- 432 Pages - 01/01/2018 (Publication Date) - Record (Publisher)
3. As veias abertas da América Latina, por Eduardo Galeano
A nossa terceira dica é de um escritor uruguaio e com um caráter mais histórico de narrar os acontecimentos da América Latina. Portanto, passamos pelo momento desde a chegada dos portugueses e espanhóis nessas terras até o início do período ditatorial.
A divisão do livro acontece por capítulos e, dentro deles, temos subtítulos que exploram as histórias de Colômbia, Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Brasil.
Apesar de ter sido um livro considerado revolucionário para a época e, inclusive, um dos maiores títulos das ideologias de esquerda da América do Sul, atualmente, o autor, em entrevista, assumiu que não leria novamente o seu trabalho de maior sucesso, pois agora assume uma postura mais ponderada.
- Galeano, Eduardo (Author)
- 400 Pages - 01/01/2010 (Publication Date) - L&PM (Publisher)
4. O corpo em que nasci, por Guadalupe Nettel
Com poucas páginas, “O corpo em que nasci” escrito pela mexicana Guadalupe Nettel é uma autobiografia ficcional, que narra um contexto de opressões, abusos sexuais, situações familiares, o preconceito e outras temáticas essenciais.
No livro, a pequena Guadalupe passou a sua infância tratando de um dos olhos com problema de visão e, por isso, precisava utilizar tampão no olho saudável para que o outro se desenvolvesse melhor. Por isso, é alvo de zombarias na escola e tratada com rejeição.
O refúgio da menina são as histórias escritas por ela, onde os personagens principais eram as crianças que a zombavam e, no final, todos morriam. Porém, essas narrativas fizeram sucesso entre os colegas da escola e, dessa forma, ela tornou-se menos excluída.
Durante o seu crescimento, Guadalupe passou por uma série de situações que a marcaram para sempre, como o relacionamento aberto dos pais e os diversos estranhos em sua casa, a viagem sem retorno do pai para os Estados Unidos, a ausência da mãe que decide estudar na França, e a vida opressora ao lado da avó.
A obra também aborda as mudanças e descobertas do corpo da mulher durante a puberdade e as opressões do machismo, que parte da avó da menina, que, pela criação rígida, reproduz.
Aliás, esse é um ponto interessante no livro: todas as figuras de autoridade femininas da menina, como a mãe e a avó, são mulheres que a oprimem, justamente por reproduzir o machismo que já viveram.
Apesar de pequeno, o livro nos traz uma chuva de temáticas que não são distantes do nosso cotidiano.
- Nettel, Guadalupe (Author)
- 224 Pages - 11/01/2013 (Publication Date) - Rocco (Publisher)
5. Quarto de despejo, por Carolina Maria de Jesus
Um livro curto e doloroso, que retrata a pobreza e a vida da mulher negra da periferia das décadas de 50 a 60.
“Quarto de despejo”, é um diário real de Carolina Maria de Jesus, que registra os seus dias como coletora de recicláveis, enquanto morava na favela do Canindé, em São Paulo.
Apesar de toda a simplicidade de sua escrita, o conteúdo é denso e difícil de digerir. Uma obra pautada pela fome, desigualdade social e machismo, e que, mesmo escrita há tantos anos, infelizmente, ainda faz sentido.
- Livro
- Jesus, Carolina Maria de (Author)
- 200 Pages - 01/01/2015 (Publication Date) - Ática (Publisher)
6. Pedro Páramo, por Juan Rulfo
Mais uma obra de origem mexicana, “Pedro Páramo” é considerada por Gabriel García Márquez uma das literaturas mais belas escritas na língua espanhola.
A história narra a trajetória de Juan Preciado em busca do pai que o abandonou e nunca obteve qualquer notícia. A pedido da mãe que, em seu leito de morte, solicita ao filho que encontre o progenitor e faça-o lembrar do abandono, o personagem principal parte em viagem.
Ao chegar em Comala, cidade onde vivia o pai, descobre um meio-irmão, também abandonado. E, claro, com essa notícia vêm muitas outras negativas a respeito do progenitor: o homem tinha péssima fama e, apesar de ter as suas riquezas, todas tinham sido conquistas por aproveitamento dos outros.
Em Comala, Juan começa a ouvir vozes que, na verdade, são almas presas na cidade por conta dos pecados. E descobre que o povoado é um reflexo de toda a história do pai: nos melhores momentos de Pedro, o local também estava no topo. E nos piores, a cidade entrou em decadência.
Assim como os livros que já vimos até agora, a política e a história não ficam de fora: em Comala, podemos ver situações referentes à Revolução Mexicana, movimento de cunho socialista e em prol dos agricultores. Aliás, isso também está conectado à história do autor, cujos avós eram trabalhadores da terra.
- Rulfo, Juan (Author)
- 176 Pages - 10/05/2020 (Publication Date) - José Olympio (Publisher)
7. A casa dos espíritos, por Isabel Allende
A nossa sétima dica de literatura latino-americana é um dos romances mais importantes do século XX aqui da região, escrito pela peruana Isabel Allende. A obra une política com espiritismo e acontece em um país que, apesar de não estar claro, parece ser o Chile.
Por ser um livro com muitas referências políticas, a nossa dica é conferir o vídeo feito pelo canal “Ler Antes de Morrer”, que traz o contexto e explica a história de uma forma incrivelmente didática.
Para os fãs de personagens femininas fortíssimas, “A casa dos espíritos” é uma leitura essencial.
- Allende, Isabel (Author)
- 448 Pages - 10/24/2017 (Publication Date) - Bertrand Brasil (Publisher)
8. Cartas para a minha mãe, por Teresa Cárdenas
“Cartas para a minha mãe” é uma obra cubana de Teresa Cárdenas, escritora conhecida pela literatura infanto-juvenil. O lançamento do romance, na época, foi criticado por expor o racismo na sociedade, mas, ainda assim, é uma literatura premiada e que traz a temática do luto e do autoamor de uma forma muito bonita e sensível.
A história fala sobre uma menina negra que escreve cartas para a mãe falecida, como uma forma de se sentir menos sozinha. Devido à morte da mãe, a personagem principal passa a morar com as tias e primas, que não gostam dela e cobram-lhe que se pareça com uma pessoa branca.
Um ponto de muita beleza na narrativa é que o leitor pode “assistir” o crescimento e evolução da personagem, e como ela começa a descobrir o mundo além das relações familiares e a encontrar outras alegrias.
Ao fim do livro, entende-se que a personagem deixa de escrever as cartas, porque finalmente sente-se mais segura e melhor com a vida.
- Cárdenas, Teresa (Author)
- 112 Pages - 12/21/2010 (Publication Date) - Pallas (Publisher)
9. Ifigênia, por Teresa de La Parra
“Ifigênia” é uma das principais obras do feminismo na América Latina, escrita pela venezuelana Teresa de La Parra.
Antes de começar a falar um pouco mais sobre a narrativa, é importante contextualizar a personagem Ifigênia, vinda da mitologia grega e sacrificada para que os soldados gregos pudessem continuar rumo à guerra de Troia.
Esse é um retrato de como as mulheres passam por inúmeras opressões para se adaptarem aos ideais da sociedade patriarcal.
A Ifigênia de Teresa é, na verdade, Maria Eugênia, e narra no texto a sua mudança da Venezuela para Paris, onde estuda em um colégio de freiras, isolada da realidade do mundo.
Após a morte do pai, a personagem decide regressar à Venezuela, mas, antes disso, quer vivenciar Paris de um jeito que não conhecia. E nisso, descobre a paixão pela moda e beleza, mas também a liberdade de viver.
“Infigênia” é um livro sobre crescer e deixar fluir a mulher que se é, sem de fato apegar-se ao que a sociedade espera.
- Parra, Tereza De La (Author)
- 544 Pages - 08/17/2016 (Publication Date) - Carambaia (Publisher)
10. Capitães de areia, por Jorge Amado
O último livro da nossa lista é uma obra icônica brasileira e, provavelmente, você já a leu, “Capitães de areia”.
Assim como os livros anteriores, este traz questões sociais quando mostra o descaso com a população infantil e adolescente marginalizada, e o abandono aos menores – podemos ver isso logo nas primeiras páginas da obra.
“Capitães de areia” narra a história de um grupo de crianças e adolescentes que viviam na rua, praticando assaltos e violências. Mas, muito mais do que isso, retrata que, apesar disso tudo, existem seres humanos ingênuos, que necessitam de amor, carinho e cuidados.
É muito claro o quanto esses meninos sentem a falta de ter alguém para cuidar e olhar por eles. Por isso, podemos ver um dos personagens, o Sem-Pernas, que encontra uma família que o ama verdadeiramente, mas, por lealdade ao grupo, saqueia-os e volta para as ruas.
A chegada de Dora muda tudo: a menina órfã assume um papel maternal para os meninos, que a tratam com respeito e buscam nela o aconchego. Mas antes disso, o grupo, com a chegada feminina ao bando, em primeiro momento tem a reação de abusarem dela, até que alguns membros a defendem e ela conquista o seu espaço.
Um dos livros mais incríveis da literatura brasileira, mas que traz uma grande tristeza ao refletirmos sobre as questões sociais e abandono de menores.
- Livro
- Amado, Jorge (Author)
- 280 Pages - 02/11/2009 (Publication Date) - Companhia de Bolso (Publisher)
Não há dúvidas de que a literatura latino-americana, apesar de ter os seus livros mais fantasiosos, tem um cunho político e de realidade muito forte, o que requer reflexão por parte do leitor. Além disso, são excelentes para compreendermos um pouco mais sobre a realidade dos países da região, conhecer a história e as semelhanças de cada um.
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Atualizado em 2024-11-23 / Links afiliados (Affiliate links) / Imagens de Amazon Product Advertising API
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