Chimamanda Ngozi Adichie
Reprodução/Rex Features

Conheça o autor: Chimamanda Ngozi Adichie

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Nesta seção do Opiniões Certificadas apresentamos escritores, comentando fatos relevantes de sua vida e trajetória profissional e listando suas obras. Portanto, se você ainda não conhece Chimamanda Ngozi Adichie, pode se acomodar bem na cadeira porque chegou a hora!

Quem é Chimamanda? 

Você pode até não saber quem é Chimamanda, mas certamente já viu esse nome em algum lugar. É praticamente impossível habitar a internet nos últimos anos sem ter esbarrado em nenhum conteúdo sobre a expoente escritora nigeriana que se tornou símbolo do feminismo e da luta anti-racismo. 

Chimamanda nasceu na cidade de Enugu, no estado de Anambra, na Nigéria. É a quarta de seis filhos de uma família Igbo, um dos maiores grupos étnicos africanos. Foi criada na cidade universitária de Nsukka, onde se localiza a Universidade da Nigéria, instituição na qual o seu pai dava aulas de Estatística.

Esses rápidos detalhes de sua biografia compõem um retrato superficial de temas que podemos encontrar em suas obras, mas ainda vem muito mais pela frente. 

Chimamanda deixou a Nigéria aos 19 anos para estudar comunicação e ciências políticas nos Estados Unidos. Em 2003, se tornou Mestre em Escrita Criativa pela Universidade Johns Hopkins e, em 2008, mestre em Estudos Africanos pela Universidade de Yale. Em 2016, se tornou Doutora em Humanidades pela Universidade Johns Hopkins, recebendo, nos dois anos seguintes, a mesma certificação de mais duas Universidades.

Já deu para perceber o quanto sua trajetória e seu objeto de estudo estão pautados nas ciências humanas e, portanto, na desconstrução de paradigmas – e é exatamente esse teor que encontramos em seus famosos discursos e em seus livros.

Chimamanda fala com tanta propriedade sobre as questões sociopolíticas que lhe são caras que é praticamente impossível continuar a mesma pessoa após a leitura de suas obras para refletir sobre assuntos como segregação racial, desigualdades de gêneros, colonização, entre outros. 

Conheça sua obra

Hibisco Roxo (2003)

O primeiro romance da autora é também o mais curto. Não se deixe enganar, no entanto, pelo tamanho, porque ele tem um peso que ultrapassa (e muito) sua quantidade de páginas. 

Em Hibisco Roxo, conhecemos a história da adolescente Kambili, narrada em primeira pessoa. Por meio de suas vivências pessoais ela mostra o peso da colonização no país, com foco nos costumes religiosos. Seu pai, Eugene, se tornou um ardoroso fiel católico e tem tanto horror às tradições nigerianas, que considera primitivas, que renega o próprio pai.

Enquanto é considerado um homem importante na sociedade e benévolo por ser um grande benfeitor dos pobres, Eugene comanda sua família a punhos de ferro, com base na opressão e na violência. 

Em meio a todos esses problemas familiares, Kambili ainda é apenas uma adolescente se descobrindo, vivendo suas primeiras paixões e entendendo o peso de fazer escolhas e a dificuldade que pode ser tomar as próprias decisões e contrariar quem tomou decisões por ela a vida inteira. 

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Meio sol amarelo (2006)

Em seu segundo (e mais ambicioso) romance, Chimamanda escreve para contar a história da guerra da secessão da Nigéria – afinal de contas, já que ninguém fez isso, ela precisava fazer.

Enquanto uma guerra sangrenta dividia a Nigéria ao meio e deixava um enorme rastro de destruição, diferentes personagens apresentados pela autora buscavam provar que não apenas são capazes de sobreviver, mas de continuar vivendo. Com sonhos. Com dignidade.

Os aspectos identitários da formação do povo nigeriano são apresentados e debatidos pela autora nessa belíssima obra de ficção, enquanto ela faz questão de repetir a frase eixo do romance: “o mundo estava calado quando nós morremos”

O mundo para quando acontece um furacão nos Estados Unidos, mas uma guerra na África nunca gera comoção. O mundo segue, diariamente, calado, enquanto morrem milhares de pessoas. Enquanto morre uma pessoa que gosta de espaguete, outra pessoa que não gosta de cachorros, outra que não teve tempo de conhecer os filhos. 

Meio sol amarelo é um relato, é um panorama, é um documento histórico, é um dos romances mais potentes que eu já li. Venceu em 2007 o National Book Critics Circle Awards e o Orange Prize na categoria de ficção. Se você ainda não se convenceu a ler, volte lá no comecinho desse texto e assista ao vídeo sobre os perigos da história única. 

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No seu pescoço (2009)

Nos doze contos que compõem essa coletânea, Chimamanda expõe toda a força de sua literatura ao combinar técnicas de narrativa convencionais com experimentalismos, além de abordar inúmeros aspectos sociopolíticos, sempre já presentes em sua obra.

Em No seu pescoço, encontramos textos sobre colonização, conflitos religiosos, conflitos políticos, desigualdade racial, imigração, relações familiares e muito mais. O escritor argentino Julio Cortázar imortalizou uma comparação entre a literatura e o boxe ao dizer que “O romance ganha por pontos, mas o conto deve ganhar por nocaute”, já que histórias curtas têm menos tempo para nos cativar. 

Pois bem, cada conto de Chimamanda ganha por nocaute. O único defeito deles é que são tão bons que eu continuo querendo que cada um origine um romance inteirinho.

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Americanah (2013)

No romance que popularizou a autora e, finalmente, içou-a à lista dos mais vendidos, Chimamanda explora a descoberta da desigualdade racial e a busca pela identidade por meio da história de Ifemelu, uma jovem nigeriana que se muda para os Estados Unidos. 

A história começa na década 1990, quando Ifemelu deixa uma Nigéria sombria sob o comando de um governo militar e, ao mesmo tempo em que se destaca no meio acadêmico americano, se depara primeira vez com o racismo: ser negra não fazia diferença alguma quando todos ao seu redor também o eram, mas fora do seu país as coisas mudaram de figura.

O livro intercala narrativas sobre esse momento da vida da personagem com narrativas que se passam 15 anos depois, enquanto Ifemelu já é uma blogueira aclamada e os Estados Unidos estão em vias de ter seu primeiro presidente negro da história. 

Acompanhamos sua vida e a de um grupo de amigos negros também politizados durante os meandros da candidatura e da vitória de Obama, bem como ao longo de todas as reflexões sociais e raciais que isso significa.

Em determinado momento, ela volta para a Nigéria e precisa aprender a se reencontrar em um país que não se parece em nada com o que ela havia deixado e, novamente, repensar a formação de sua identidade.

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Sejamos todos feministas (2014)

Neste rápido e potente ensaio, originado de seu discurso homônimo, a autora parte de sua experiência pessoal como mulher (e negra) para mostrar a importância do feminismo e explicar porque o mundo precisa tanto dele.

Ao ser chamada de feminista pela primeira vez, em uma discussão com um amigo de infância, Chimamanda percebeu que, pelo tom de voz utilizado, ela não podia considerar aquilo um elogio – mas decidiu que era exatamente o que faria. Ela abraçou o rótulo, se transformou em um símbolo do movimento e, neste livro, explica o porquê em uma linguagem leve e acessível.

Sejamos todos feministas é praticamente um livro de iniciação. 

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Para educar crianças feministas – um manifesto (2017)

Neste pequeno livro em formato de carta, Chimamanda retoma o assunto da igualdade de gênero por meio de quinze lições que ela passa para uma amiga que acabou de ter uma menina. 

São conselhos simples e precisos que ajudam os pais a pensarem em uma educação igualitária, sem privilégios ou encargos de gênero. 

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O perigo de uma história única (2019)

O último de seus livros curtos de não ficção é baseado na sua mais famosa palestra homônima, cujo vídeo está no começo deste texto. No discurso (e no ensaio), a autora propõe que diversifiquemos nossas fontes de conhecimento e nunca nos contentemos em ouvir apenas uma versão da história ou apenas um tipo de história. 

Ela, mas uma vez, nos faz refletir. Aproveite e pense em que tipo de livros você lê, quem são esses autores, de que países eles vêm e descubra se você realmente está se propondo a fugir da história única.

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Agora que você conhece um pouco sobre a Chimamanda e já sabe quais são todas as suas obras, escolha por qual quer começar – e me conta aqui nos comentários!

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