Indicações de literatura contemporânea brasileira

18 indicações de literatura contemporânea brasileira

0 Compartilhamentos
0
0
0

Já foi-se o tempo em que sofríamos da síndrome do vira-lata e torcíamos o nariz para as produções literárias brasileiras, né? Espero que sim! Se você ainda não quebrou esse preconceito – ou o medo que ficou de quando você foi obrigado a ler Machado de Assis na escola –, chegou a hora! 

A literatura contemporânea brasileira vem ganhando cada vez mais destaque nas prateleiras dos leitores mais ávidos e marcando presença também nas grandes feiras literárias internacionais. 

Essa lista de 13 títulos é um convite para que você se disponha a conhecer um pouco do que está sendo produzido por aqui no momento, em diferentes gêneros e formatos. É bacana perceber como diferentes estilos são bem-vindos ao momento, desde obras mais experimentais e disruptivas até as que possuem um estilo mais tradicional. 

1. Mônica vai jantar

Começamos a lista com um livro de fôlego, acredite em mim: se você pegar esse livro, vai precisar lê-lo de uma vez só. Isso porque o escritor baiano Davi Boaventura resolveu experimentar o máximo da literatura em fluxo de consciência e, ao longo das 96 páginas do livro você acompanha os pensamentos de Mônica sem qualquer pontuação ou pausa.

O que eu tenho a dizer é que o experimento funciona e você não consegue passar por essa leitura sem ser tomado por inúmeras sensações. Mônica está atrasada e precisa se arrumar para o jantar de final de ano da firma, ao qual não gostaria de ir. Enquanto ela toma banho e tenta decidir a roupa que vai usar, tem o pensamento invadido pela tragédia que aconteceu em sua vida privada: seu namorado chegou em casa espancado após ter se masturbado em público. 

Ela não consegue decidir o que vestir. Não encontra seu casaquinho. Se machuca ao depilar as pernas. O jantar já teve seu restaurante alterado duas vezes. Seu gerente é extremamente machista. Ela não quer ir a esse jantar. Ela não faz ideia do que fazer em relação ao namorado. Tudo isso em poucas horas, 96 páginas e absolutamente nenhum ponto ou vírgula.

[wptb id=1062]

2. O peso do pássaro morto

“ao canário que
Assustado em caber na palma,
morreu na minha mão”

É com essa dedicatória que a escritora paulistana Aline Bei começa a apresentar a história que lhe rendeu o prêmio São Paulo de literatura em 2018. Se você folhear o livro quando estiver de bobeira na livraria, pode pensar, a princípio, que se trata de um livro de poesias. A Aline segue, em seus escritos, o estilo de prosa poética, aproveitando para testar um diferente formato de conduzir a ficção literária.

Através das páginas de O peso do pássaro morto, seu livro de estreia, conhecemos a história de uma mulher por meio das perdas que marcaram sua vida. Acompanhamos seus relatos em primeira pessoa, quase como registros de um diário, nos quais ela nos apresenta as maiores tragédias pelas quais passou entre os 7 e os 52 anos. Algumas dores são mais individuais, outras mais universais, outras ainda muito típicas da vivência de uma mulher na sociedade. 

Não tem como ler esse livro e não se emocionar, não sofrer e não se encantar com a delicadeza de Aline para contar sua história. 

[wptb id=1065]

3. Se Deus me chamar não vou

Mariana Salomão Carrara também é uma escritora paulistana bastante jovem que ainda vai marcar muita presença na literatura brasileira, já que talento não lhe falta. Em Se Deus me chamar não vou ela apresenta a história de Maria Carmem, uma menina de 11 anos que escreve em primeira pessoa para nos provar a tese de que 11 anos é a pior idade do mundo.

É impressionante a habilidade de Mariana de se colocar no lugar de uma criança e narrar a história com tanta verdade. Maria Carmem não tem a pior das histórias, nem a melhor delas: ela tem uma história relativamente comum. Seus pais são um pouco negligentes, engravidaram sem planejar e ainda se sentem vivendo o auge de sua juventude e de sua paixão. Estão sempre se abraçando e se beijando vorazmente dentro de casa. Enquanto isso, Maria Carmem se sente quase que inexistente e passa os dias acalentando a própria solidão.

É uma menina maior do que o esperado para sua idade e as pessoas costumam dizer que ela é novinha, “só tem tamanho”. Ela gostaria de não ter tanto tamanho. Sofre bullying na escola por causa disso. Começa a escrever um livro sobre o seu ano porque a professora disse que ela escrevia bem – mas mal imaginava que o ano em que ela resolveu escrever ia trazer uma novidade tão fora do comum para a sua vida.

[wptb id=1068]

4. De Espaços Abandonados

Essa é uma indicação para quem está querendo sair totalmente da zona de conforto literária. A escritora canoense Luisa Geisler não brinca em serviço quando o assunto é experimentação. Todos os seus romances publicados experimentam diferentes formatos e não entregam nada de bandeja a leitor nenhum. Para ler Luisa é necessário estar disposto a montar quebra-cabeças, e ela atinge seu máximo em De Espaços Abandonados.

O livro, publicado em 2018, brinca com a metalinguagem e desnuda o processo de escrita de um romance enquanto nos apresenta um mosaico de vozes narrativas. É por meio de relatos curtos de diferentes personagens que, aos poucos, vamos sendo apresentados à história da introspectiva e míope Maria Alice cuja mãe, diagnosticada com transtorno bipolar, desapareceu sem deixar vestígios. 

Enquanto Maria Alice percorre o mundo buscando sua mãe, está, na verdade, buscando a si mesma. Se dispondo a se perder para, quem sabe, se encontrar. Como também é comum na obra da autora, o livro está repleto de críticas sociais ácidas que te dão alguns tapas na cara antes que você perceba. 

[wptb id=1092]

5. Crocodilo

Javier A. Contreras é um escritor brasileiro filho de pais chilenos que se exilaram no Brasil depois do golpe militar de 1973. É óbvio, portanto, que questões políticas aparecerão em sua obra de uma forma ou de outra, entremeando as vivências dos personagens.

Crocodilo começa com o protagonista narrador, Ruy, nos contando que seu filho, Pedro, se atirou do 11º andar do prédio em que morava. A partir de então acompanhamos o personagem ao longo dos 7 dias que se dão entre o enterro e a missa de 7º dia do filho, em que ele tenta desesperadamente entender o que aconteceu.

Seu filho parecia um menino feliz, empolgado com a vida e com os próprios projetos. Era cineasta, tinha namorada e independência financeira, pais bacanas, o que pode ter acontecido? Ruy era jornalista investigativo e resolve, então, usar de suas técnicas para refazer os passos do filho e conversar com as pessoas que eram mais próximas dele para encontrar uma resposta. Será que um suicídio tem uma resposta?

[wptb id=1093]

6. Sobre os canibais

Caetano W. Galindo é um tradutor curitibano bastante reconhecido no meio literário que lançou recentemente o seu livro de contos Sobre os canibais, no qual ele se propõe a experimentar a oralidade na literatura. Em entrevista, Caetano já comentou ter muita dificuldade em acreditar nos diálogos que encontra na literatura, que parecem sempre inverossímeis.

No seu livro, então, a gente encontra 42 contos curtos em que o cotidiano e a oralidade são explorados ao seu máximo. O autor traz diferentes propostas e formatos, alguns contos maiores, outros fragmentados, alguns com apenas um parágrafo. 

Entre bate-papos em um velório e a organização de uma exposição de arte encontramos temáticas como a do suicídio, a do casamento conturbado, a da abnegação materna e muitas outras vivências tão próprias da vida em sociedade. Vale a pena experimentar junto com o autor!

[wptb id=1071]

7. Machamba

A escritora mineira Gisele Mirabai venceu, com seu livro Machamba, a 1ª edição do prêmio Kindle de literatura. Esse livro também é uma indicação mais voltada para aqueles que querem sair da zona de conforto e experimentar uma literatura mais desconstruída. Para entender a história de Machamba, a protagonista que dá título ao livro, é preciso estar disposto a juntar as pecinhas para montar o quebra-cabeças.

Tudo que sabemos logo de começo é que a personagem nasceu e cresceu numa fazenda, no interior de Minas Gerais, e hoje em dia é uma mulher que vive sozinha em Londres, levando uma vida um tanto inconsequente e promíscua. Ela quer repensar a sua trajetória para entender como foi parar ali e quais foram os passos mais definitivos que deu. Quais foram os pontos-chave, aqueles que mudaram tudo? Enquanto ela descobre, nos convida a descobrir junto. 

[wptb id=1075]

8. Controle

Controle é o romance de estreia da premiada contista gaúcha Natalia Borges Polesso. Natalia é reconhecida na literatura contemporânea brasileira por retratar o amor entre mulheres de maneiras não estereotipadas e que não necessariamente seja o foco da vida das personagens.

Nesse livro a gente conhece Nanda, que era uma menina comum até o final de sua infância, quando teve sua primeira convulsão e saiu de um hospital com o diagnóstico de epilepsia. A partir de então seus pais se tornaram extremamente protetores e ela se afundou na “zona de conforto” de se resumir a um diagnóstico para não ter que se descobrir enquanto pessoa. 

Chegando aos 30, Nanda não sabe quem é. Percebe que a vida inteira afastou as pessoas que tentaram estar à sua volta, incluindo sua melhor amiga por quem tem uma paixão mal resolvida. Controle fala de uma personagem que, ainda nova, descobre que não tem nenhum controle sobre o próprio corpo – mas, anos depois, quer tomar, pela primeira vez, as rédeas da própria vida.

[wptb id=1077]

9. Torto Arado

Temos aqui mais um romance premiado (Prêmio Leya 2018)! O escritor baiano Itamar Vieira Junior é Doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia e seu primeiro romance publicado certamente vem com essa base.

Torto Arado conta a história das irmãs Bibiana e Belonísia que, nas profundezas no sertão baiano, encontram uma misteriosa faca guardada sob a cama de sua avó. Acontece, então, um acidente que entrelaça suas vidas para sempre. 

O romance de Itamar retrata o Brasil que deveríamos conhecer nas aulas de história: um país encalhado em seu passado escravocrata. Precisamos ler obras como essas para que a educação possa, aos poucos, nos tirar da escuridão.

É só digerindo nosso passado que conseguimos conquistar um novo presente – – e temos MUITO Brasil para digerir ainda. Maravilhoso que tenhamos autores nos oferecendo esse tipo de história.

[wptb id=1079]

10. Com armas sonolentas

Nesse romance polifônico, Carola Saavedra nos apresenta três personagens com histórias de vida bastante diferentes e que nem imaginam estarem definitivamente entrelaçadas. O livro é dividido em duas partes que, por sua vez, são divididas cada uma em três capítulos que dão a voz a cada uma dessas mulheres.

Anna é uma aspirante a atriz que acaba conhecendo um cineasta alemão e vê nele a grande chance de sua vida. Maike é uma jovem alemã que, sem nenhuma razão aparente, decide estudar a língua portuguesa na universidade. A terceira personagem não tem direito nem a um nome: teve sua vida roubada ao ser enviada pela mãe do interior de Minas para trabalhar como doméstica na casa de uma família no Rio de Janeiro. 

Ao apresentar a história de cada uma e nos mostrar suas ligações, Carola bebe também na água do realismo mágico, um gênero muito próprio da literatura latino-americana, honrando tanto suas origens chilenas como as brasileiras. O livro é uma viagem única de descoberta para cada uma das personagens e, é claro, para cada um dos leitores.

[wptb id=1081]

11. Ponciá Vicêncio

Conceição Evaristo é uma escritora brasileira negra, que nasceu numa favela em Belo Horizonte e, como muitos negros, carrega a bagagem de ser a primeira pessoa de sua família a obter um diploma universitário. Através de suas histórias, tão políticas, Conceição registra os percalços da desigualdade de gênero, raça e classe no Brasil.

Ponciá Vicêncio é um romance curto e poderoso. Nele conhecemos a história da protagonista que dá título ao livro, uma mulher que sai do interior para buscar uma vida melhor na cidade grande. A narrativa costura memórias de infância de Ponciá aos seus pensamentos mais íntimos e, através de uma história muito bem escrita, pauta os temas políticos tão caros à escritora. Conhecer Conceição é obrigatório! 

[wptb id=1083]

12. Todos nós adorávamos caubóis 

No romance Todos nós adorávamos caubóis, a escritora gaúcha Carol Bensimon traz a história de Cora e Julia, duas amigas e ex-amantes que já não se falam há alguns anos e, ao retomar contato, decidem marcar um encontro em sua terra natal, no extremo-sul do Brasil. A partir daí a ideia é empreenderem juntas uma viagem de carro pelas paisagens sulistas que acaba sendo uma grande viagem através delas mesmas e de seus conflitos. 

(Já deu pra perceber que uma temática em comum a muitos dos livros citados são jornadas interiores e subjetivas? Talvez esse período da nossa literatura fique marcado por isso, vamos ter que esperar alguns anos para estudar e descobrir.)

[wptb id=1086]

13. O Sol na cabeça

O Sol na cabeça é o livro de estreia do jovem carioca Geovani Martins, que cresceu nas periferias do Rio de Janeiro. Através dos contos do livro ele retrata essa realidade, esse lado B da cidade que raramente aparece nas novelas e jamais vai aparecer nos guias turísticos.

Ele fala da infância e da adolescência de meninos que crescem sem muitos horizontes, em meio à violência policial e tendo acesso negado a direitos básicos como o de estar em paz na praia em um final de semana. O livro chamou muita atenção pela capacidade narrativa do autor que consegue imprimir em seu texto uma realidade dolorida, sem demagogias, e ainda apresentar uma obra tão bonita. 

[wptb id=1088]

14. Suíte Tóquio

Segundo romance da paranaense Giovana Madalosso a ser publicado pela editora Todavia, Suíte Tóquio nos convida a acompanhar a história de Maju, a babá que está sequestrando Cora, a criança da qual toma conta há algum tempo. 

É só com o decorrer da história que vamos entendendo qual a sua motivação por trás disso e qual é o contexto da família, por meio de relatos intercalados em primeira pessoa de Maju e de Fernanda, a mãe, uma produtora de televisão com a vida atribulada que só começa a desconfiar que algo de estranho está acontecendo de noite, já que confiava completamente na babá. 

Quem é Maju? Quem é Fernanda? Quais são as histórias que as rodeiam? Com esse romance extremamente contemporâneo e pertinente, Giovana Madalosso se firma como uma escritora potente, analítica e capaz de apresentar temas delicados e múltiplos vieses do que acontece todos os dias à nossa volta. 

[wptb id=5003]

15. Cidades afundam em dias normais

Em seu segundo romance, a escritora Aline Valek nos apresenta a história de uma cidade que afundou. Sim: se você tinha certeza que o título era puramente metafórico, pode me dar um abraço porque eu precisei rir da minha cara ao começar a ler e descobrir que se tratava, de fato, sobre uma cidade que afundou.

Alto do Oeste é uma pequena cidade que fica no meio do cerrado brasileiro e foi afundando aos poucos, enquanto alguns de seus moradores iam embora e outros preferiam ficar a todo custo. Anos depois, quando após um longo período de seca a cidade emerge novamente, Kênia, uma jornalista que passou infância e adolescência no local, resolve voltar para produzir um documentário sobre o assunto. 

No meio das histórias de pessoas que ficaram e se foram e das memórias construídas e perdidas na cidade, muitos significados metafóricos sobre afundamentos também acabam por acontecer, eu prometo. 

[wptb id=5005]

16. A palavra que resta

Raimundo é um senhor de 71 anos que nunca aprendeu a ler e a escrever. Há 50 anos ele guarda uma carta de amor deixada por Ciro, com quem manteve um relacionamento secreto que foi interrompido violentamente. A essa altura, Ciro foi embora deixando apenas essa carta — que, 50 anos depois, Raimundo decide que vai dar um jeito de ler.

Não se engane: o livro é curto mas tem o poder de te trazer uma torrente de sentimentos. É impossível não se emocionar e refletir com este primeiro romance de Stênio Gardel, de quem certamente poderemos esperar mais belas palavras pela frente.

[wptb id=5007]

17. Apague a luz se for chorar

O ser humano é muito engraçado: somos os únicos seres vivos a ter consciência de que vamos morrer e, todos os dias, escolhemos não lidar com esse assunto. Assim, a morte segue sendo um assunto delicado e, com ela, traz tabus que insistimos em jogar para debaixo do tapete.

É sobre isso que, com delicadeza e perspicácia, a autora Fabiane Guimarães fala em seu Apague a luz se for chorar. Acompanhamos a história por meio de relatos intercalados sobre Cecília e João. 

A primeira acaba de enterrar seus pais em uma cidade pequena do interior de Goiás. O segundo é pai solo de um menino com paralisia cerebral e trabalha em um centro de zoonoses de Brasília, sacrificando os animais que já não têm perspectiva de melhora.

Capítulo após capítulo vamos nos afeiçoando às histórias dos personagens, tentando entender seus dramas e escolhas e, é claro, adivinhar como diabos eles estão relacionados e em que ponto a história vai se juntar. Fabiane é muito boa em dar pistas falsas, de forma que conseguiu me pegar bastante de surpresa — e eu amo histórias que me pegam de surpresa. 

[wptb id=5009]

18. Os tais caquinhos

Como é adolescer em meio ao caos de um apartamento assoberbado de tranqueiras acumuladas e com um pai depressivo e alcoólatra? É isso que Natércia Pontes tenta descobrir ao compor seu romance. Os tais caquinhos conta a história de uma família desestruturada que tenta continuar unida em meio aos problemas particulares de cada um, as diferenças entre eles e o mar de lixo e insetos que se acumulam insistentemente dentro de casa. 

O livro é extremamente cru enquanto nos entrega personagens cheios de camadas, por vezes nada carismáticos e nobres, e nos envolve com a história a ponto de não querermos largar o livro um só segundo. 

[wptb id=5011]

Pronto! Agora que você já leu esse texto, é hora de escolher algum desses livros para ler e entrar em contato com a literatura contemporânea brasileira que está sendo produzida com tanta maestria.

0 Compartilhamentos
comentários
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *