Conceição Evaristo: livros para se emocionar e refletir

Conceição Evaristo: livros para sentir e refletir

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Nesta seção do Opiniões Certificadas apresentamos escritores, comentando fatos relevantes de suas vidas e trajetórias profissionais e listando suas obras. Portanto, se você ainda não conhece Conceição Evaristo, pode se acomodar na cadeira porque chegou a hora!

Quem é Conceição Evaristo?

Conceição Evaristo é uma escritora contemporânea brasileira nascida em Minas Gerais em 1946. Mulher negra e de origem pobre, foi a primeira de sua família a conquistar um diploma universitário ao se formar em Letras pela UFRJ. Além disso, Conceição é Mestre em Literatura Brasileira e Doutora em Literatura Comparada.

Já deu para entender que currículo é o que não falta para essa mulher — e, garanto, garra e poesia também não. Em seus livros, ela trabalha o que chama de “escrevivência”: uma mistura entre escrever e depor, entre criar ficção e falar da vida, o que ela faz magistralmente, diga-se de passagem.

Os temas de suas obras são extremamente políticos: desigualdade social, racial e de gênero, assuntos que ela aborda por meio de histórias em geral curtas e muito potentes, com personagens tão humanos que poderiam estar ao nosso lado no ponto de ônibus.

O poder de Conceição de nos fazer refletir e emocionar com suas histórias é tão grande que não é atoa que hoje ela é uma voz tão celebrada na literatura contemporânea nacional, tendo seus livros trabalhados, inclusive, em provas de vestibulares pelo país. 

Conheça sua obra

Ponciá Vicêncio (2003)

O primeiro livro da autora é um romance de formação que acompanha a personagem título pelas suas memórias, sonhos e andanças. A história de Ponciá é a história de muitas mulheres negras brasileiras: nascida e criada em uma vila povoada por descendentes de escravizados no interior do Brasil, a personagem se muda para a cidade grande em busca de uma vida melhor, com a esperança de conseguir se estabilizar e buscar a mãe e o irmão.

O que acontece no meio do caminho, enquanto ela arruma um emprego de faxineira e começa a juntar suas economias, é que o irmão também vem buscar emprego na cidade e a mãe também migra do interior com o intuito de encontrar os dois filhos e reunir a família. Estão todos perdidos no mesmo lugar, “na mesma selva” do cotidiano que levam como praticamente invisíveis, vivendo as agruras da violência social todos os dias e sem saber que estão muito mais perto do que imaginam.

Acompanhamos, em terceira pessoa, um pouco dos caminhos, dores e sonhos de cada um dos três e de outras milhares de pessoas na mesma situação com as quais esbarramos todos os dias nas ruas da cidade. 

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Becos da memória (2006)

No segundo livro da autora conhecemos várias histórias que se entrelaçam, traçando um panorama da vida dos moradores em uma favela que está prestes a ser destruída. A narração é dividida entre primeira e terceira pessoas, com partes contadas pela protagonista Maria-Nova e inserções sobre os outros personagens.

Por meio das memórias de seus personagens, Conceição fala sobre a posição de pessoas negras, principalmente mulheres, na construção do dia a dia do Brasil nas grandes cidades, onde são invisibilizadas violentamente pela desigualdade e têm ceifados os seus direitos até sobre o lugar em que moram.

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Poemas da recordação e outros movimentos (2008)

Em seu terceiro livro, Conceição rompe as barreiras da prosa para expressar sua movimentação na poesia. Em Poemas da recordação e outros movimentos acompanhamos as experimentações da autora nesse gênero, que lhe permite ainda mais liberdade para bailar com suas palavras e provar que, mesmo quando elas transmitem dores e violências, são movimento puro e precisam existir. 

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Insubmissas lágrimas de mulheres (2011)

Neste livro a autora resolve explorar ainda outra possibilidade e, em pequenos contos, narra a vida de diferentes mulheres, sem que saibamos direito se as histórias são realidade ou ficção. Os textos mostram, principalmente, as dores das mulheres negras na sociedade e de como são presas e precisam ser submissas por muitos motivos, mas suas lágrimas sempre recusam a prisão e apenas saem pelos olhos, extravasando a dor que, essa sim, não deveria ter permissão de imperar.

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Olhos d’água (2014)

Ainda na temática das lágrimas, o quinto livro de Conceição nos traz mais contos sobre mulheres negras que precisam ser verdadeiras guerreiras do dia a dia para controlar suas vidas e cuidar de seus entes queridos. 

O conto que explica o título é tão emocionante quanto inesquecível. Nele, acompanhamos uma filha que apresenta a história de sua mãe, que lutava com todas as suas forças para alimentar sete filhos. Ao contar sobre passagens da vida de sua mãe, confessa que sua memória, por vezes, viaja, e ela não saberia explicar qual era a cor dos olhos da matriarca. Conclui que não era possível dizer pois estavam sempre cheios de água. 

Assim, possivelmente, são os olhos de todas as outras personagens de seus contos e das muitas mulheres negras e pobres que estão à nossa volta, fazendo o que podem pelo sustento da família em um mundo que as relega à posição de ser o outro do outro

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Histórias de leves enganos e parecenças (2016)

Em mais um livro de contos, a autora valoriza a cultura negra apresentando seus elementos por meio de uma narrativa que bebe tanto na oralidade das histórias transmitidas de geração para geração quanto no realismo fantástico, tão característico da literatura latino-americana. 

Assim como Conceição, suas personagens buscam a arte e o fantástico para se libertar de amarras e experimentar a vida para além do que lhes seria entregue. Este livro já é obra de arte desde o título, não concordam?

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Agora que você conheceu um pouco sobre a Conceição Evaristo e sabe quais são as suas obras, é só escolher uma para começar – e me contar o que achou aqui nos comentários!

Imagem de capa: Reportagem da UOL

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