Diferentes momentos da história, diferentes mulheres e diferentes visões. A literatura feminista reúne sentimentos, relatos, pesquisas e reflexões de autoras em todo o mundo que acreditam que a opressão deve ser combatida e que ser mulher não é algo que caiba em uma caixinha.
A história do feminismo já é de longos anos, dividido por ondas conforme o momento político e social da época. E, atualmente, o mercado editorial vem apostando na publicação de grandes nomes da literatura feminista e facilitando o acesso a esses conteúdos.
Por isso, nada como começar a investir em uma estante mais diversificada e com livros que abram espaços para reflexões e transformações. No meio de tantos livros consagrados, separamos sete essenciais para entrar no mundo da literatura feminista.
1. O segundo sexo
Quanto o assunto é literatura e filosofia feminista, um dos primeiros livros que vem em mente é “O segundo sexo”, escrito pela filósofa, existencialista e feminista francesa Simone de Beauvoir em 1949.
A obra foi escrita em um cenário de forte conservadorismo e o livro foi publicado apenas cinco anos após o direito ao voto ter sido concedido às mulheres francesas.
A proposta de “O segundo sexo” é analisar a condição social da mulher e as definições populares de feminilidade ao longo do tempo e que, segundo Beauvoir, foram utilizadas como uma forma de opressão às mulheres.
Na obra, a autora argumenta que, historicamente, as mulheres sempre foram tratadas como inferiores e secundárias, sendo “os outros”, enquanto homens representavam o “eu”.
O livro é dividido em dois volumes: no primeiro, Beauvoir faz uma reflexão sobre os fatos e mitos sobre a condição da mulher; já no segundo, a autora faz uma análise da mulher em todas as suas dimensões: social, política e psicológica.
“O segundo sexo” é a obra que consagrou Simone de Beauvoir na filosofia mundial e é de onde se origina a famosa frase “Ninguém nasce mulher, mas torna-se”.
[wptb id=1166]2. Um teto todo seu
“Um teto todo seu” (1929) é um ensaio escrito por Virginia Woolf e baseado em duas palestras que a autora apresentou em outubro de 1928 na Newnham College e Girton College, duas faculdades para mulheres na Cambridge University.
Apesar de, aparentemente, ser um livro curto, as ideias de Woolf tornam a leitura densa e fundamental para a literatura feminista.
A tese deste ensaio explica que para uma mulher escrever uma ficção ela precisa de duas condições: independência financeira e um teto todo dela. Um ponto curioso sobre a narrativa deste ensaio é que Woolf optou por criar uma narradora fictícia, pois, se usasse o seu nome real, saberia que não seria ouvida.
Uma das reflexões que o livro traz é sobre o abismo de diferença entre homens e mulheres. Na época em que a obra foi escrita, havia quem não acreditasse nessa ideia, mas a autora apresenta uma realidade que muitas vezes não era levada em consideração, como a qualidade da estrutura das faculdades femininas e masculinas.
Resumindo, Woolf traz a reflexão da opressão feminina e como isso influencia as produções literárias.
Na edição de 2014 da editora Tordesilhas, além do ensaio, o leitor tem acesso a uma seleção de trechos do diário de Virginia, uma cronologia da autora e um posfácio escrito pela crítica literária e colaboradora da Folha de S. Paulo, Noemi Jaffe.
[wptb id=1170]3. A mística feminina
O famoso e polêmico “A Mística Feminina” (1963), escrito por Betty Friedan, é outro livro fundamental e histórico na literatura feminista. Afinal, ele inspirou a segunda onda do feminismo e foi conhecido como responsável pela revolta das mulheres estadunidenses na época.
A autora questiona todo o imaginário social construído ao redor das mulheres norte-americanas, vistas como donas de casa perfeitas, sem muitos sonhos ou ambições.
De acordo com as pesquisas de Betty, a mulher torna-se o ponto central do consumo, o que afasta-a da construção enquanto sujeito. Dessa forma, a sua própria personalidade e desejos passam a ser anulados e, consequentemente, acarreta frustrações e problemas de ordem social e psicológica.
Na edição comemorativa de 50 anos da obra, a editora Rosa dos Tempos acrescentou textos inéditos da autora.
[wptb id=1174]4. O feminismo é para todo mundo
Mais recente na literatura feminista, “O Feminismo é para todo mundo” por Bell Hooks foi publicado em 2000 e foca em questões de gênero, raça e sociopolítica. Com uma narrativa leve, Bell explica e desconstrói a visão negativa de que o feminismo é contra homens, quando na verdade é contra a opressão vinda do sexismo.
Esta é uma obra fundamental para a literatura feminista, pois explica o momento do movimento em que questões de raça e classe ainda não eram pautadas e como a entrada desses assuntos se tornou uma conquista.
A autora ainda incentiva o leitor a entender como o feminismo pode transformar o mundo e melhorar a qualidade de vida para todos os indivíduos, independentemente de sua cor, raça, gênero e idade.
O livro ainda esclarece conceitos importantes como as políticas feministas, direitos reprodutivos, beleza, lutas de classes, feminismo global e o fim da violência. A autora também abre uma reflexão para a educação feminista para uma consciência crítica, masculinidade feminista, maternagem e paternagem feministas e muitas outras temáticas.
Bell Hooks é considerada uma das mais importantes feministas negras da atualidade, eleita uma das principais intelectuais norte-americanas pela revista Atlantic Monthly e uma das “100 pessoas visionárias que podem mudar a sua vida” pela revista Utne Reader.
[wptb id=1220]5. O conto da aia
Em 1985, Margareth Atwood publicava a distopia “O conto da aia”. Uma leitura de décadas atrás, mas que ainda traz muitas reflexões que podem ser encaixadas nos dias atuais, especialmente quando pensamos nos direitos de reprodução e igualdade das mulheres.
A distopia narra a jornada de June, que foi levada para a República de Gilead, antigo território dos Estados Unidos. Mas este não é o país norte-americano que conhecemos, e sim um lugar devastado por radiação e guerras, onde a maioria das mulheres são inférteis e por isso precisam das aias, que servem apenas para procriar.
Durante o enredo, June, que se torna uma aia, vê-se diante de diversos episódios de desrespeito aos direitos humanos, crueldades, perseguições, controle e a opressão de um estado totalitário. A única esperança de June é reencontrar a sua filha desaparecida e o seu marido.
O livro já ganhou a sua adaptação nas telas, com a série do mesmo nome pela Hulu, que rendeu diversos prêmios importantes como Melhor Série Dramática pelos Emmys e Globo de Ouro.
Margareth Atwood é uma das maiores escritoras da língua inglesa e foi consagrada com prêmios internacionais importantes, como o Man Booker Prize.
[wptb id=1254]6. A cor púrpura
A nossa sexta dica é um livro de grande peso, tanto para a literatura feminista, como para a literatura negra norte-americana. “A cor púrpura” (1982) foi escrito por Alice Walker e é um dos romances mais importantes de empoderamento dos negros nos Estados Unidos, principalmente das mulheres negras.
O livro conta a história de Celie, uma mulher negra no sul dos Estados Unidos, na segunda metade do século XX. A narrativa acontece em volta de assuntos delicados como os abusos físicos e psicológicos sofridos pela personagem principal enquanto filha e esposa.
A história se desenvolve através de cartas que Celie escrevia para Deus e algumas poucas para outros correspondentes. “A cor púrpura” chama para a reflexão sobre relações de amor, ódio, poder e de uma sociedade de desigualdades sociais de gêneros, etnias e classes sociais.
[wptb id=1233]7. Quem tem medo do feminismo negro?
A reflexão já começa pelo título que, segundo a autora do livro, Djamila Ribeiro, é uma provocação para as pessoas pensarem. “Quem tem medo do feminismo negro?” (2018) reúne diversos artigos escritos pela autora, de 2014 a 2017, na revista Carta Capital.
Para Djamila, a resposta ao título é a seguinte: “só tem medo quem não está disposto a discutir modelos alternativos de sociedade”.
Nas primeiras páginas, Djamila relembra a infância e puxa isso para uma discussão sobre o silenciamento, processo de apagamento da fala e da personalidade, experiência que a autora conta já ter passado.
Os textos de Djamila são extremamente quotidianos e trabalham conceitos como empoderamento feminino, além das discussões em volta da mobilização por redes sociais, políticas de cotas raciais e a origem do feminismo negro no Brasil e Estados Unidos.
Djamila Ribeiro é filósofa, escritora e feminista negra. É pesquisadora e mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo.
[wptb id=1241]Escolher apenas sete livros em um universo tão rico de reflexões, ideias e discussões não é tarefa fácil! Entretanto, apesar de muitas dessas obras já terem um bom tempo, elas continuam atuais e sendo icônicas quando o assunto é literatura feminista.
Para se aprofundar no tema, é interessante entender qual o contexto social em que as autoras estavam inseridas ao escrever essas leituras, quais foram as suas referências literárias e de luta, assim como pesquisar outras obras e trabalhos das escritoras.
Já tem algum desses títulos em sua estante? Conte nos comentários a sua opinião sobre eles ou qual livro você também considera essencial para a literatura feminista.
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