Elena Ferrante livros

Conheça Elena Ferrante: livros impossíveis de largar

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Nesta seção do Opiniões Certificadas apresentamos os escritores, comentando fatos relevantes de sua vida e trajetória profissional e listando suas obras. Portanto, se você ainda não conhece Elena Ferrante, pode se acomodar bem na cadeira porque chegou a hora!

Quem é Elena Ferrante?

Essa é a pergunta que, já há alguns anos, deixa o mercado literário em polvorosa. Isso porque a escritora italiana reconhecida por seus livros densos e espinhosos mantém sua verdadeira identidade em segredo e se recusa a dar qualquer entrevista que não seja por e-mail e intermediada pelas editoras italianas que a publicam.

Especula-se que Elena Ferrante seja o pseudônimo de uma tradutora, mas esta que vos fala acredita sinceramente que saber sua identidade não faz a menor diferença: se tudo o que ela quer nos entregar está em seus livros, deveríamos estar mais do que satisfeitos. 

Sua riquíssima literatura nos permite confrontar a humanidade de maneira única, bem como conhecer os costumes de diferentes grupos sociais italianos e refletir sobre o papel da mulher na sociedade.

A escritora fez sucesso na Itália desde o lançamento de seu primeiro romance, publicado em 1992 e que, no Brasil, recebeu o título de “Um amor incômodo”. Seu estrelato internacional veio, no entanto, com a tetralogia napolitana, publicada originalmente entre 2011 e 2014. Apelidada na internet de “Harry Potter da mulher adulta”, a série é considerada a obra-prima da autora e sua adaptação para a televisão já está na segunda temporada, com produção da HBO.

Lila e Lenu na adolescência – Imagem: Divulgação/HBO

Antes de apresentar seus livros, preciso complementar dizendo que tem quem ache que Elena Ferrante pode ser o pseudônimo de um autor homem. Quem diz isso não leu sequer uma linha de sua obra, que retrata de forma tão pungente tanto a alma feminina como sua posição em um mundo patriarcal que necessita de uma boa dose de conhecimento de causa.

Conheça sua obra

Um amor incômodo (1992)

O primeiro romance de Elena Ferrante já deixou bem claro desde o título o que toda a sua obra viria a ser: incômoda. No livro, conhecemos a história de Delia que, aos quarenta e cinco anos de idade, retorna a Nápoles, sua cidade natal, para enterrar a mãe – mãe esta que foi encontrada morta na praia, vestindo nada além de um sutiã bonito e caro, o que não condizia com sua posição humilde.

Impelida por essa circunstância inesperada, Delia resolve investigar o passado de sua mãe enquanto, para isso, precisa revisitar o seu próprio passado e a infância conturbada em Nápoles. O relacionamento das duas nunca foi fácil, e a protagonista sempre buscou apagar qualquer vestígio da mãe em sua vida cotidiana, evitando, a qualquer custo, se transformar em algo parecido com ela. O que será que essa nova busca trará à tona?

É interessante perceber como já estão presentes nessa história os grandes temas que a autora continuará trabalhando incansavelmente em sua literatura: o microcosmo de Nápoles, seus dialetos e particularidades, relacionamentos conturbados entre mãe e filha, maternidade desromantizada e o papel social da mulher na época e no local que ela habita.

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Dias de abandono (2002)

Em seu segundo romance, Ferrante aborda a temática da rejeição, tanto no âmbito emocional como no social. Na história, acompanhamos uma fase da vida de Olga, que tem início no dia em que seu marido comunicou que iria lhe deixar. 

Enquanto ele sai de casa para viver com sua namorada mais nova, Olga passa a viver um pesadelo. A narrativa é tão poderosa, pungente e claustrofóbica que o leitor é transportado ao pequeno apartamento em que ela vive com dois filhos e um cachorro – agora sem marido – e à loucura da sua mente. 

Além da dor trazida pela perda da pessoa amada e pela traição, a protagonista passa frequentemente a se comparar com outra mulher abandonada da vila, a quem todos sempre ridicularizaram. Enquanto isso, seus amigos começam a enxergá-la como algo a ser corrigido e insistem em lhe apresentar novos pretendentes. 

Em meio ao desespero de Olga, duas crianças (uma delas queimando em febre), um cachorro doente, os barulhos incessantes do prédio e a fofoca que corre solta em uma cidade pequena, Ferrante nos coloca frente a um grande tabu da sociedade: a mulher largada.

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Frantumaglia – Os caminhos de uma escritora (2003)

O livro de não ficção é um compilado de cartas, entrevistas e trechos inéditos de ficção da escritora, com o intuito de apresentar a construção de sua obra e seus processos criativos. Ela não deixa de comentar, também, sobre a escolha de se manter anônima e afastada da mídia, evitando a espetacularização da sua imagem como forma de proteger a própria literatura – afinal de contas, depois de lançado, o livro não é mais do autor e a ele pouco importa.

O título, Frantumaglia, vem de um termo do dialeto napolitano que significa quebras, instabilidades, destroços, de onde ela diz tirar a inspiração para construir cada uma de suas histórias e cada uma das identidades que as permeiam.

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A filha perdida (2006)

O terceiro romance da autora nos apresenta como protagonista uma professora universitária de meia idade, Leda, que resolve tirar férias na praia. Suas filhas já estão crescidas e decidiram se mudar para o Canadá para morar com o pai, e embora ela sinta um forte alívio por conta disso, não consegue parar de pensar na sua história com a maternidade.

Ainda nos primeiros dias de férias, passa a observar obsessivamente uma família de napolitanos com quem divide a praia, em especial Nina e Elena, uma jovem mãe e sua filha de três anos que, por sua vez, cuida de uma boneca como se fosse sua própria filha. Ao observá-las, Leda intensifica os pensamentos sobre a própria vida e sua trajetória com as filhas.

O clímax do livro começa quando Elena se descuida da boneca e acaba perdendo o brinquedo. O caos se instala na família que se rende ao desespero da menina e faz de tudo para encontrá-la, oferecendo até recompensa pela sua devolução. Enquanto segue observando a família feito um voyeur, Leda também vivencia um caos interno enquanto está diretamente ligada com o desenrolar dos acontecimentos.

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Uma noite na praia (2007)

O único livro infantil de Elena Ferrante traz o leitor de volta ao universo de “A filha perdida”, apresentando uma rápida história contada do ponto de vista de uma boneca que é esquecida na praia. 

Sem saber voltar para casa e triste porque foi abandonada pela criança, Celina, a boneca, vive uma noite longa e cheia de aventuras em meio às areias da praia. Como já era de se esperar da escritora, ela não subestima a capacidade das crianças e entrega uma história que, por não ser nada rasa, chama a atenção tanto dos pequenos quanto dos adultos. 

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Tetralogia Napolitana*

O carro chefe da obra de Ferrante foi a série napolitana que a lançou para a fama internacional.  Como o próprio nome sugere, trata-se de quatro livros que se passam sumariamente em Nápoles e, na verdade, dá para dizer que a cidade é quase um dos personagens principais da trama.

Ao longo dos livros acompanhamos um detalhado romance de formação que se sustenta em meio à história da amizade entre Elena Greco (Lenu) e Rafaella Cerullo (Lila), que passam sua infância em um bairro pobre de Nápoles na segunda metade do século XX. Quem nos conta toda a história é Lenu, já idosa, e sua motivação é um telefonema do filho da Lila dizendo que ela finalmente conseguiu desaparecer. 

Com um misto de raiva, mágoa e devoção pela amiga, Lenu começa a narrar a vida de Lila, jurando que nunca vai deixá-la desaparecer de vez. Acontece que a história da amiga também  diz muito sobre a jornada dela própria, de Nápoles, e das muitas outras pessoas que as rodeavam. 

Embora os livros solos de Elena Ferrante já sejam trabalhos bastante sólidos, dá para perceber que todos são um ensaio do que viria a ser a Tetralogia Napolitana, que orquestra com maestria todos os temas abordados pela autora até então: a sociedade italiana, o papel da mulher, os relacionamentos conturbados, a desromantização da maternidade, o abandono – e muito mais. 

Enquanto elas se desenvolvem, Ferrante não deixa de mostrar muito bem o plano de fundo: a Itália é viva no livro e transborda transformações políticas e sociais, do início ao fim. Confira abaixo um pouco sobre cada um dos volumes:

A amiga genial (2011)

No primeiro livro da série, Lenu nos apresenta a fase de vida delas que vai da infância aos 16 anos. Elas se conhecem na década de 1950, no bairro pobre onde moram em Nápoles e, desde então, criam uma relação complexa de amizade na qual se endeusam e se invejam na mesma proporção. 

Elena é uma menina calada que acaba chamando a atenção por ser, sempre, a melhor aluna de sua sala. Quando Rafaella se muda para o bairro com a família e começa a se destacar por ser uma menina um pouco menos bem cuidada e muito mais irreverente, a primeira não consegue se desvencilhar da curiosidade e da atração. 

Em uma realidade sombria, marcada pela fofoca, pelos gritos e pelos abusos constantes dos adultos, as meninas se apoiam uma na outra e tentam sonhar, juntas, com um futuro melhor. Igualmente boas na escola, planejam estudar para muito além do que era esperado para as mulheres da época – e a casa começa a cair quando os pais de Elena permitem que ela continue os estudos, enquanto os pais de Lila se recusam a investir em sua educação e exigem que ela comece a trabalhar e faça de tudo por um casamento vantajoso. 

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História do novo sobrenome (2012)

No segundo livro, que acompanha a juventude das meninas, nos embrenhamos ainda mais nas ditaduras sociais que regem a vida das mulheres da época. Lenu e Lila tomaram caminhos opostos e, enquanto continuam ligadas e comparando as suas vidas, ambas seguem oprimidas pela desigualdade de gênero.

Ferrante maneja muito bem sua narrativa, equilibrando momentos onde tudo acontece com momentos onde “nada acontece” e quem impera são as questões subjetivas. Neste livro, definitivamente saímos da infância e, assim como Lenu, Lila e os personagens que as rodeiam, a literatura também amadurece.

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História de quem foge e de quem fica (2013)

Se o segundo livro, ainda que já bastante tenso, foi um apenas um ensaio, é no terceiro volume da série que a vida adulta cai como um meteoro na vida de Lenu e Lila. Assim como as personagens, o leitor se sente em meio a um turbilhão de acontecimentos que, tanto domésticos quanto públicos, constroem um cenário angustiante que deixa definitivamente de dar vez à inocência e à esperança infantis que conseguíamos ver nos livros anteriores. 

Enquanto acompanhamos e descobrimos, afinal, quem foge e quem fica, os caminhos de Lenu e Lila se tornam mais distantes que nunca, enquanto a relação entre elas se torna cada vez mais complexa. 

Neste, que é, entre os livros da série, o mais obviamente político, chega em seu ápice também a discussão sobre o quanto é transgressor que uma mulher queira traçar seu caminho em um mundo comandado por homens. 

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História da menina perdida (2014)

No último volume da série acompanhamos as fases de maturidade e velhice das personagens, no período em que elas tentam entender a relação complexa que tiveram ao longo de todos esses anos e descobrir o que realmente significa essa amizade. 

Os caminhos, que nos livros anteriores tinham se separado, tornam a se juntar em meio a uma Itália em frangalhos, que tenta se recuperar da guerra assim como as pessoas tentam se recuperar das próprias escolhas. O leitor fica cada vez mais perto de saber por que e como Lila desapareceu, afinal, está finalmente chegando o momento em que nos encontraremos novamente no início do primeiro livro – para ficar na vontade de simplesmente abrir o primeiro e começar tudo outra vez.

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*Se você se interessou pela história, é possível também comprar o box com os quatro livros de uma vez!

A vida mentirosa dos adultos (2019)

Cinco anos depois do término da tetralogia napolitana, Ferrante mata a sede dos fãs com seu novo romance que acompanha os anos de transformação da protagonista, Giovanna, de adolescente para adulta.

A história começa quando a protagonista nos conta que ouviu seu pai dizer que ela estava ficando muito parecida com a tia, Vittoria, que sempre foi um grande tabu na família. Ao escutar a conversa, no entanto, Giovanna passa a sentir uma enorme atração por essa tia, que vai insistir em conhecer.

Os contrastes propostos entre seus pais e sua tia não só marcam esses anos tão definitivos na vida de Giovanna, mas também funcionam como uma analogia para a passagem da adolescência para a vida adulta, onde você se sente compelido a abandonar tudo o que era antes para se tornar outra pessoa. As descobertas sobre as mentiras que os adultos lhe contam também simbolizam essa etapa da vida, em que precisamos deixar de lado um tanto da inocência que nos sobrou da infância para encarar as verdadeiras dinâmicas da vida.

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Indicação bônus: Elena Ferrante – uma longa experiência de ausência (2020)

Não é à toa que o consumo da literatura de Elena é chamado por aí de Ferrante Fever. A febre Ferrante (tradução literal) tomou conta não só do público como da crítica e da academia. Nesse livro, a pesquisadora e crítica literária Fabiane Secches esmiúça a obra da escritora e provoca profundas reflexões sobre as temáticas abordadas por ela. 

Um capítulo extra do livro ainda reúne comentários de outros escritores, editores, pesquisadores e até psicanalistas que apresentam a própria análise da obra da italiana.

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Agora que você já conhece um pouco mais sobre a obra de Elena Ferrante, o problema é decidir por onde começar! Quando escolher, me conta nos comentários?

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