Três livros colocados um sob o outro com um marcador de páginas com as cores do arco-íris no primeiro deles.

Literatura LGBT: uma coletânea de livros sobre a temática

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Ferreira Goulart afirmou, certa vez, que a arte existe porque a vida não basta. Nesta perspectiva, os movimentos seriam expressões que se estendem para além da existência, muitas vezes, para compreendê-la e representá-la. Esta é, aliás, uma das formas de olhar para a literatura LGBT.

Obras com personagens, representações e narrativas compostas por características e manifestações da cultura LGBTQIA+, conhecida, no ramo de estudos, como teoria queer, são criadas há anos na história da humanidade.

Por muito tempo, porém, estes livros foram proibidos, confiscados, queimados ou completamente destruídos. O que resultou no infeliz apagamento de uma literatura LGBT rica e densa.

Graças às lutas por direitos e ao crescimento da visibilidade do movimento nos últimos anos, atualmente é possível criar obras com a temática sem que elas sejam destruídas. Dessa forma, artistas cumprem um dos papéis principais da arte no mundo: representar e dar espaço para todas as formas de existência, de modo que outros se sintam pertencentes.

Na literatura, estudiosos englobam a literatura LGBT em outro subgrupo criativo, chamado literatura marginal. Essa escola literária visa, basicamente, dar voz a grupos constituídos de minorias e que, por muitos anos, não tiveram o direito ao grito defendido por Lispector.

Além de LGBTQIA+, negros, indígenas, mulheres, imigrantes e outros grupos colocados, muitas vezes, à margem da sociedade, escrevem para a vertente marginal. Um dos maiores traços dessa escola é que, além de representar essas pessoas, ela também é feita por elas.

Para te ajudar a compreender melhor os desdobramentos da literatura LGBT e como as representações da vertente literária acontecem, separamos alguns livros sobre a temática. Continue a leitura e escolha quais serão lidos primeiro!

1. Dois garotos se beijando 

Escrito pelo literato contemporâneo David Levithan, Dois garotos se beijando é uma obra apaixonante e escrita com uma atenção aos detalhes impressionante. 

Narrada na primeira pessoa do plural (nós), o que confere um tom de coletivo tão forte no movimento LGBT, o livro reúne diferentes representações de sexualidade conforme a história é construída.

Com personagens assumidas, ainda em processo de descoberta, transexuais, afeminadas, e muitas outras, a obra leva o leitor para diferentes estágios do ser gay e faz com que ele compreenda, respeite e se apaixone por todos eles.

É uma obra indicada para adolescentes e, também, para adultos graças ao seu caráter honesto e atemporal de olhar para a história do movimento LGBTQIA+ e da luta por direitos com tanto respeito.
David Levithan, inclusive, é conhecido por tornar possível que jovens LGBT se reconheçam em narrativas literárias hoje em dia, fato que não era possível alguns anos atrás. Com títulos como Garoto encontra garoto e Will & Will, ele brinca com as palavras e permite que os futuros membros do movimento consigam compreender suas existências com mais facilidade ao serem representados.

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2. Morangos mofados

Considerado a obra-prima do escritor modernista brasileiro Caio Fernando Abreu, Morangos mofados é um livro de contos com caráter político e identitário, que ilustra as dificuldades e a opressão de pessoas LGTBQIA+ no passado.

É uma obra extremamente forte e criada com muita poética na prosa, expondo a violência contra os corpos gays durante a ditadura militar, a repressão, o preconceito e a dor sofrida por pessoas que desejavam apenas expressar seu amor e sua personalidade em público.

O caráter identitário fica claro na obra devido à forma com que Caio aborda sentimentos íntimos dos jovens da época, como a dor, a solidão e a exclusão. A presença de festas regadas a drogas e a álcool é outra característica de Morangos mofados, sendo essas imagens convertidas, sempre, em uma pós-diversão desacelerada e, por vezes, triste.

O livro retrata de forma profunda a dificuldade de encaixe e a busca por um pertencimento que, na época, por conta do contexto histórico, eram negados aos LGBTQIA+. Para quem quer conhecer a literatura e iniciar os estudos na teoria queer, é uma ótima escolha.

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3. Um milhão de finais felizes

Um milhão de finais felizes é um livro contemporâneo e brasileiro escrito por Vitor Martins que acompanha a trajetória de Jonas, um garoto na etapa de descobrimento e de aceitação de sua sexualidade.

Além de tratar, de forma dinâmica, sobre como é se entender como homossexual, a obra cria um cenário universal ao dialogar com questões familiares, primeiro amor, conservadorismo e religião.

No livro, Jonas precisa compreender como lidar com as expectativas e encontra isso na metalinguagem: passa a escrever uma história na qual se representa e, por meio dela, restabelece o significado de família, amigos e, principalmente, amor.

É uma obra indicada para o público infanto-juvenil, mas que também pode ser lida de uma vez só graças à fluidez da escrita de Vitor.

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4. Flores raras e banalíssimas: a história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop

Uma obra com caráter biográfico organizada por Carmen L. Oliveira e que retoma a história de amor entre duas mulheres, Lota e Elizabeth, figuras marcantes na história da arte.

Elizabeth Bishop foi uma poeta americana que, em 1951, desembarcou no Rio de Janeiro para uma estadia programada de dois dias, que se tornou, na verdade, 16 anos graças ao seu encontro com Lota de Macedo.

Flores raras e banalíssimas é o resultado de anos de estudos por parte da escritora para recontar a história de amor entre duas mulheres, desde o momento em que assumiram sua sexualidade até as crises enquanto cada uma delas lutava para tornar seus sonhos realidade.

No segundo plano da obra, o leitor é apresentado à construção do Aterro do Flamengo, um famoso complexo de lazer da capital carioca, idealizado pela arquiteta e urbanista Lota. Ao mesmo tempo, um ambiente repleto de arte, análise social e vida política se constrói em torno das personagens de um romance ganhador de prêmios como o Stonewall Book e Lambda Literary Award.

É um livro cuidadoso, repleto de histórias e de relatos marcantes sobre a vida de duas figuras célebres que foram unidas por sua sexualidade e pelo laço de carinho.

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5. Amora

Redigido pela escritora, pesquisadora e tradutora brasileira Natália Borges Polesso, Amora é um livro delicado que reúne diversos contos com uma temática em comum: as relações entre mulheres homossexuais.

Assim, como Caio Fernando Abreu, Natália foi capaz de entrar no âmago das personagens e libertar o maravilhoso, o medo, a descoberta e o ato político que é ser uma mulher lésbica. Enquanto as histórias discorrem, o leitor é apresentado a cenas cotidianas e cheias de significação.

Amora é o resumo de como a sexualidade feminina é um tema denso e, ao mesmo tempo, apaixonante. Um deslumbramento encontrado na busca pela identidade para que se viva plena e honestamente.

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6. Me chame pelo seu nome

O livro de André Aciman é, sem dúvidas, uma das narrativas com personagens gays mais famosas dos últimos anos. 

Em Me chame pelo seu nome, o leitor é apresentado a Elio, um adolescente que passa os verões na costa italiana com os pais que, anualmente, recebem escritores para orientação. Determinado dia, chega na casa da família Oliver, um norte americano espontâneo e atraente.

Conforme a história se desenrola, Elio começa a lidar com o prisma da sexualidade ao se apaixonar por Oliver, que tem sua estadia na Itália datada para seis semanas. 

Aciman consegue, com sua narrativa, expor de forma sensível a descoberta da sexualidade, a dualidade dos sentimentos humanos e como o amor pode ser um sentimento forte e consolidante. 

Em 2017, a obra foi adaptada para o cinema pelo diretor Luca Guadagnino, sendo extremamente aclamada nos festivais de Berlim, de Toronto, do Rio, no Sundance e, depois, tornando-se um dos maiores candidatos ao Oscar 2018. Confira o trailer abaixo.

Trailer de Me chame pelo seu nome, dirigido por Luca Guadagnino.
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7. O ano em que morri em Nova York

Um livro escrito por Milly Lacombe que narra a história de uma mulher que se muda de Nova York após anos residindo na cidade devido a um término bastante conturbado.

É um convite para refletir sobre a força dos pensamentos e como uma ideia pode desencadear uma série de ações e sentimentos, visto que a protagonista precisa se reinventar depois de anos traçando uma mesma linha de vida.

Milly consegue ilustrar, de forma honesta e cheia de força, como a mente humana funciona e pode ser nociva, passando pela redescoberta de uma mulher marcada por se assumir tardiamente e ainda ter que lidar com os preconceitos da sociedade.

É uma obra linda, íntima e que destaca como é ser mulher e lésbica na sociedade, conforme as cobranças e os preconceitos surgem.

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8. Azul é a cor mais quente

Azul é a cor mais quente é uma novela gráfica – ou um quadrinho – que retrata o romance entre Clementine, uma menina de 15 anos,  e Emma, uma garota de cabelos azuis. 

O livro quebra as regras de gênero e descreve de forma poética e universal o amor entre as mulheres. Pelas páginas do diário de Clementine, o leitor descobre como a história começa, suas tristezas, descobertas e maravilhas.

Em 2012, o livro de Julie Maroh foi adaptado para o cinema pelo diretor Abdellatif Kechiche, recebendo o prêmio mais importante do Festival de Cannes, a Palma de Ouro.

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9. Com amor, Simon

Com amor, Simon é um livro feito para todas as idades por retratar a descoberta e o primeiro amor de um jovem adolescente.

É um best-seller que também foi adaptado para o cinema e auxiliou diversas pessoas a entenderem sua sexualidade e procurar apoio nos amigos e na família para lidarem com ela. É uma obra simples, de leitura fácil e torna acessível a discussão sobre se assumir para diferentes idades.

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10. Problemas de gênero: feminismo e a subversão da identidade

Para quem busca um conhecimento científico e teórico sobre literatura LGBT, em Problemas de gênero é possível ter contato com um dos estudos mais importantes do movimento: o que estrutura e desenvolve a teoria queer.

O livro escrito por Judith Butler dialoga com as questões de identidade feminina, da oposição entre sexo e gênero e das múltiplas sexualidades existentes no mundo. A obra define mulheres e membros da comunidade LGBTQIA+ como sujeitos e, a partir disso, propõe discussões que analisam os tópicos.

Problemas de gênero é denso ao mesmo tempo em que é a porta de entrada em um mundo que influencia filmes, livros e outras representações artísticas dentro do movimento LGBTQIA+.

Mais do que experimentar vivências, ler livros de literatura LGBT é uma forma de apoiar a causa e conhecer com profundidade os pensamentos, problemas, felicidades e maravilhosas dentro da comunidade.

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No Brasil, o preconceito em relação a essas pessoas é escancarado. Ao ler, estudar e consumir artes de membros do movimento LGBTQIA+, é criada toda uma rede de fortalecimento, em que gays, lésbicas, bissexuais e todas as outras cores do arco-íris gigantesco por trás de cada sujeito sai ganhando.

Se você tem alguma obra, indicação de filme ou outra expressão sobre LGBTQIA+ que goste e que não apareceu nesta lista, comente para que mais pessoas tenham acesso. Além disso, compartilhe esse texto com quem você acha que vai se interessar e promova a causa!

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